As fotos são maravilhosas: sorrisos, post-it, pessoas de pé discutindo ideias e mesas cheias de conceitos, frases soltas, rabiscos e copinhos de café. Por vezes chega a parecer stock photography de temas como “Inovação” ou “Start-up”. Mas frequentemente ( não sou o primeiro a fazer esta observação ) parece mais teatro corporativo.
Um produto muito comum para quem trabalha em consultoria é o workshop. Essa palavra, ao ser pronunciada, evoca imagens de dinâmicas e debate, brainstorm e outras atividades mais ou menos recorrentes. E no meio de toda a boa vibe que se espera de um workshop, por vezes as coisas ficam um pouco soltas demais e os resultados não impressionam muito. É por isso que gostei muito quando vi que a MESA prega o “Do not trust the process”. Não é suposto um workshop ser só boa vibe. Talvez me digam que nem todos os workshops são assim, que empresa X é diferente etc, tudo isso é válido. Mas sabemos que esta situação do workshop meio new-age demais é real.
Eu não digo que workshops não sejam uma fonte interessante de informação, um momento especial para marcar uma transição ou um processo colaborativo e profundamente atual para o mundo complexo que temos. Eu acho que por vezes clientes ainda pouco versados nestes temas são convencidos que precisam de um workshop. E pode ser que não.
Se o que buscamos é transformação, transformação de um produto, de um processo ou de uma organização, faz sentido pensar não no início do processo, mas na sua continuidade.
Um workshop que marcará um antes e um depois. A história da empresa passará a se organizar em A.W. e D.W..
3 Motivos para eu ser cético com workshops all-in
- Personas ou user flows são partes de um processo e não fazem muito sentido como entregáveis de um projeto em Produtos Digitais. Da mesma forma Workshops são um meio e não um fim. Faz sentido uma empresa contratar ajuda para transformar um processo interno. Pode ser que esse projeto exija um workshop, mas pode ser que não. O que para mim não faz sentido é contratar um workshop apeanas. É como comprar só as batatas fritas do PF: todo o mundo gosta de batatas fritas, mas não é um grande almoço.
- É caro contratar uma consultoria externa. E em teoria ( em teoria! ), os problemas mais simples que a equipe do cliente pode resolver sozinha já foram solucionados. Logo, se alguém está contratando especialistas externos, provavelmente o problema a resolver é complexo. Nada complexo se resolve de uma assentada. Tudo o que é complexo demora a resolver e isso normalmente é feito de forma gradual, com acompanhamento constante. Para abusar das analogias: Workshop como solução All-In é como cirurgia, quando na verdade fisioterapia muitas vezes faria mais sentido. Mais encontros simples, espaçados, menos invasivos.
- Workshops são na verdade muito difíceis de organizar e coordenar. Trata-se de conseguir a participação e colaboração de várias pessoas, com perfis diferentes e frequentemente com objetivos opostos. Além do mais, workshop quer dizer “oficina”, um lugar onde se fazem coisas. Alguns workshops não resultam em nada e são apenas uma nova forma de dizer “palestra” ou “treinamento”. Ou seja, é muito fácil um workshop ser mal organizado, mal facilitado e os seus resultados mal processados. Como a variação de qualidade entre workshops e consultores é tão grande, não é nada difícil de imaginar que muita gente está colocando as esperanças de transformação da sua organização em um produto imperfeito.
Workshops que não dão certo não pensam na continuidade
Se buscamos transformação (de um produto, de um processo ou uma organização) não faz sentido pensar só no início. Tem que pensar a sua continuidade. Não é o fato do seu workshop de inovação gerar 465 ideias que vai mudar tudo.
O que vai mudar tudo é o que acontece depois do workshop, é como são criados planos e estratégias para fazer acontecer as ideias escolhidas. Esta parte é menos sexy, é menos conciliadora ( uma boa forma de estragar uma boa ideia é mistura-la com outras ideias boas ), é menos Thinking e mais Doing.
A minha humilde sugestão é que clientes e consultores discutam todo o processo e não apenas os momentos #innovation #workshop e #brainstorm.
P.S. Reforço, a minha crítica não é ao Workshop, mas sim à ideia de que ele é a panaceia de todos os problemas organizacionais. Por vezes coisas mais simples são bem mais eficazes.
P.P.S. Sim, “Workshop” é um termo muito genérico, mas acredito que a maior parte dos leitores vai conseguir imaginar precisamente o que estou falando.
Se ao ler isto bateu uma pontada de identificação, eu vou sugerir que você dê uma olhada neste outro texto: