Há uns tempos tive a oportunidade de participar numa visita a algumas empresas no Vale do Silício. Foi uma experiência muito bacana, em especial por algo que pude ver em primeira mão: soluções de tecnologia colaborativa com um forte toque de pensamento visual.
Um paradoxo na nossa relação com a tecnologia é o fato de ela nos dar habilidades extra, mas sempre estar relacionada com algum hábito, tendência ou mecânica ancestral que foi embutida no nosso DNA há dezenas de milhares de anos.
Não acredita? Veja o caso de redes sociais apoiadas em nossos instintos de animais gregários; a publicidade online que estuda quais estímulos límbicos nos impelem ou sistemas como a Siri ou Alexa, que nos permitem falar com computadores como o fazemos com outras pessoas.
“uma das primeiras utilizações do pensamento visual foi precisamente para registrar atividades importantes, normalmente realizadas em grupo”
A nossa primeira linguagem
O pensamento visual é um exemplo destas estruturas cognitivas que nos ajudaram por dezenas de milhares de anos e ainda é difícil de ser ultrapassado. Podemos conviver com drones e inteligências artificiais, mas os nossos melhores instintos foram forjados há muito, muito, muito tempo atrás. E foram melhorados por testes muito rigorosos.
Sabemos também que uma das primeiras utilizações do pensamento visual foi precisamente para registrar atividades importantes, normalmente realizadas em grupo. São literalmente centenas de séculos a aperfeiçoar a capacidade de nos expressarmos por desenhos. Não existe nenhuma tecnologia colaborativa com esse nível de maturidade.
E falando de tecnologia, voltamos à viagem que fiz ao Vale do Silício*: visitamos várias empresas, entre elas a Cisco e a Google. Ambas tinham soluções próprias voltadas para a colaboração visual entre equipes tanto presencialmente quanto à distância. As soluções eram diferentes mas continham pressupostos semelhantes:
- colaboração,
- trabalho facilmente compartilhável e editável,
- possibilidade de ter vários participantes em vários devices
- e claro, os seus próprios devices proprietários.
- A Cisco tem o Cisco Spark Board
- a Google tem o Jamboard.
“Este interesse das grandes empresas tecnológicas em pensamento visual é profundamente pragmático”
Por ter participado da visita como facilitador visual, imediatamente os participantes sugeriram que eu experimentasse ambos os sistemas quando foram apresentados. Foi bem divertido e permitiu perceber outra coisa: este interesse das grandes empresas tecnológicas em pensamento visual é profundamente pragmático.
Tecnologia Colaborativa não é sobre ser artista
Apesar das ferramentas terem muita qualidade e possibilidades, elas não foram pensadas para artistas. As ferramentas disponíveis são poucas (alguns tipos de pincéis ) as paletas de cor reduzidas e contrastantes. Faltam até opções como tamanho de tela e número de layers.
Nada disto é um erro ou acaso. Apenas mostra que os gigantes da tecnologia reconhecem que o pensamento visual é relevante para todos e não apenas para alguns poucos “criativos”. Incluir poucas opções de personalização sinaliza que estes são instrumentos de trabalho para o século XXI. E o fato de serem ferramentas baseadas na nossa mais antiga tecnologia colaborativa só reforça a sua validade. Afinal de contas, é algo que já está no nosso DNA.
Mas se os levássemos para o século – XXI ainda seriam compreensíveis e utilizáveis por qualquer ancestral nosso. Conhece outra tecnologia que possa se gabar de ter um espectro tão grande de utilização?
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*Facas de sílex foram as primeiras ferramentas criadas pelos nossos precursores. Que coincidência que sílex e silício foram os materiais que nos permitiram dar os maiores saltos de progresso!